No artigo anterior mostrei o funcionamento do sistema de ATENÇÃO, hoje o tema é ENGAJAMENTO neurológico ATIVO. Este circuito está ligado diretamente com a CURIOSIDADE. Que já foi tema de um artigo anterior.
Segundo Stanislas Dehaene – diretor do INSERM – CEA Cognitive Neuroimaging (França) – para aprender, o cérebro precisa criar um modelo mental hipotético do mundo exterior baseado nas memórias guardadas. Este modelo é comparado com as informações que chegam por meio dos sentidos nas inúmeras conexões do sistema nervoso. Se o modelo hipotético se confirma fazemos a consolidação da informação, se não se confirma ativamos uma nova conexão neural. Neste processo, motivação é essencial, pois só aprendemos se o objetivo for claro e se estivermos totalmente comprometidos. Por esta razão, a atenção e o foco continuam sendo parceiros inseparáveis do engajamento. Pois, sem estes 3 componentes não conseguimos aprender.
Durante a evolução do ser humano, quatro principais funções surgiram para maximizar a velocidade de absorção das informações do ambiente.
- Atenção: amplifica a informação que se coloca o foco
- Engajamento ativo: um sistema neurológico relacionado com curiosidade que estimula o cérebro incessantemente a testar novas hipóteses
- Feedback de erro: é a comparação entre o que se esperava com o que ocorreu, e isto corrige o modelo neuronal existente
- Consolidação: processo que automatiza o aprendizado durante o sono
Um exemplo mencionado por Dehanes em seu livro Why we learn, cita um experimento feito com 3 grupos de estudantes. O objetivo era a memorização de um grupo de 60 palavras.
- Primeiro grupo: foram apresentadas as 6o palavras e solicitado que verificassem quais as palavras tinham a letra inicial maiúscula ou minúscula;
- Segundo grupo: verificassem quais as palavras que rimavam com a palavra cadeira;
- Terceiro grupo: verificassem se existiam palavras que significam animais
A pergunta do experimento: Qual dos 3 grupos memorizou a maior quantidade de palavras?
Se você respondeu o grupo 3 ACERTOU!!! POR QUÊ???
A resposta é que o grupo 3 processou as palavras mais profundamente (75% de sucesso). Usando caminhos neurais que produzem maiores intensidades de neurotransmissores e envolvem duas áreas extremamente importantes no aprendizado que é o CÓRTEX PRÉ-FRONTAL E O HIPOCAMPO. O processamento dos dois primeiros grupos foi feito usando mecanismos neurológicos mais superficiais e por esta razão o resultado do primeiro grupo foi de 33% enquanto o resultado do segundo foi de 52%. Este experimento ensina que quando criamos condições de aprendizado que dificultam, ou exigem que esforço cognitivo maior, como interpretar um texto, entender ou mapear determinada situação criando interação aumenta a capacidade de memorização.
Não existe uma fórmula mágica que possa ser aplicada em todas as situações, porém, a intensificação de atividades práticas, discussões construtivas onde todos expressem seus pontos de vista, trabalhos em grupos, especialmente os grupos multidisciplinares, forçam as pessoas a engajarem ativamente em processos mais intensos de pensamento –> MAIOR APRENDIZADO.
Nas organizações a palavra mágica se chama AUTONOMIA. Quanto mais as pessoas se sentem capazes de buscar o aprendizado necessário para resolver um novo desafio, maior engajamento ativo elas terão com a solução do problema. Isto se torna especialmente importante quando estamos lidando com problema complexos, pois ninguém detém o conhecimento da solução. Porém, abrir o espaço para que o cérebro possa se engajar na busca de novas associações neurais aumentará sensivelmente a capacidade de INOVAR.
Além da autonomia, outro fator essencial é a CURIOSIDADE. Curiosidade no cérebro está ligado a um neurotransmissor achando DOPAMINA, que ativa o circuito de recompensa. Dopamina significa GOSTAR DO QUE FAZ!!! Diferente de fazer o que gosta. O que nem sempre é possível dentro do mundo organizacional. Este circuito é ativado quando se recebe novas informações. A antecipação de informações relevantes ativa o circuito de recompensa. É como se tivéssemos evoluídos para aprender continuamente.
Memória e curiosidade caminham sempre juntos!!!
Todavia, importante ressaltar que o cérebro avalia a rapidez de aprendizado e, se não aprendemos com a rapidez que gostaríamos, a curiosidade – nível de dopamina – é desligada. Passamos da euforia para o tédio… e deixamos de nos motivar e aprender!! Outro ponto a ressaltar é que como todo este processo ocorre no pensamento é necessário aumentar a nossa METACOGNIÇÃO.
Metacognição é a nossa capacidade de perceber os nossos pensamentos. É a cognição da nossa cognição!! Ela tem um grande impacto na curiosidade, que é ativada quando percebemos que podemos aprender o que não sabemos. Este processo é que ativa o aprendizado.
Um exemplo interessante de engajamento ativo, lembrando que o cérebro tem duas maneiras de aprender:
1. Modo ativo no qual aprendemos com a curiosidade e estamos testando hipóteses, comparando aquilo que antecipamos versus aquilo que a realidade apresenta, como bons cientistas. Ativamos a dopamina
2. Modo receptivo no qual absorvemos aquilo que outros nos transmitem, sem um processo mais aprofundado de aferição.
O Global Learning XPRIZE lançado em 2014 é um exemplo de como pessoas analfabetas aprendem ano processo ligado à curiosidade e principalmente quando uma pessoa ensina para a outra. O desafio era criar um software aberto, escalável que possibilitasse crianças analfabetas a aprenderem a ler e escrever o inglês e a matemática em 15 meses. Usando somente o modo ativo. Ou seja, usando. curiosidade e o cérebro social – escalando o aprendizado entre o grupo.
Em 2017, 5 finalistas foram selecionados dos 198 times internacionais que concorreram para ganhar 1 milhão de dólares. Depois de 15 meses de teste em campo perto de 3,000 crianças de 170 vilas da Tanzania, dois times, onebillion e Kitkit School, dividiram $10 milhões patrocinados pela Tesla e SpaceX ambas empresas do empresário Elon Musk.
APRENDER AUMENTA CAPACIDADE DE INOVAR. O ADULTO JA TEM MAIS DIFICULDADE PARA SE ENGAJAR ATIVAMENTE. ELE PRECISA ESTAR EM EQUILÍBRIO. COMO FAÇO ISTO???
Autoria: Prof. Dra. Solange Mata Machado
Texto originalmente publicado no site da Imaginar