Fonte: https://hazeshift.com.br/cynefin/
O emprego de energia da empresa pode ser dividido entre exploratório e prescritivo, segundo Cynefin. Entendemos por exploratório o esforço que dentre diversas alternativas busca alguma que se mostre viável em termos de produtos, serviços e processos. Normalmente nessa fase estamos diante de um CASE que pode vir a se tornar algo viável em termos de NEGÓCIO. Para um CASE se tornar um NEGÓCIO precisa superar as restrições identificadas, por isso o teste de alternativas é importante; muitas delas não vão dar certo, e as que derem certo vão compondo o processo que irá entregar o produto/serviço em questão. Vencida essa etapa, a empresa passa a empregar seus esforços de forma prescritiva, ou seja, busca padronizar e otimizar as características do processo/produto/serviço e, assim, obter o maior retorno possível da energia empregada.
Fonte: https://tealunicorn.com/cynefin-and-standardcase/
A abordagem exploratória e abordagem prescritiva podem conviver numa organização, mas substituir uma pela outra pode ser fatal:
- Adotar uma abordagem prescritiva em empresa jovial poderá sufocá-la em seus esforços de encontrar alternativas para um produto/serviço viável;
- Adotar uma abordagem exploratória em empresa estabelecida poderá causar a entropia, dispersando a energia otimizada na entrega dos produtos e serviços vigentes.
Como ter uma empresa sustentável num ambiente VUCA, em que esforços exploratórios são requeridos mesmo de empresas maduras?
Uma das formas é a gestão Ambidestra, ou Bimodal; não é exploratória nem prescritiva, mas sim exploratória e prescritiva. A organização madura precisa assegurar a receita dos produtos e serviços correntes, pois ao contrário das empresas em estágios iniciais (startups, por exemplo) em que os investidores pagam as suas contas, empresas maduras costumam pagar as suas contas com as receitas dos seus produtos e serviços. Para não dispersar a energia otimizada, necessária para a geração da receita corrente, a empresa madura pode estabelecer espaços de uso de energia na forma exploratória. Antigamente, chamavam áreas de P&D, que por vezes constituíam até unidades de negócio específicas em que lhes era dada a liberdade para errarem e testarem hipóteses até chegarem a um produto/serviço viável a ser incorporado nos processos produtivos da empresa ou até na constituição de outra empresa do grupo empresarial. Podemos chamar Modo 1 o emprego de energia de forma prescritiva, requerido para a entrega de produtos e serviços vigentes aos clientes da empresa. Nesse modo, é requerida padronização e confiabilidade, pois o cliente espera adquirir um produto de qualidade compatível com o que está pagando. Alguém espera ver um MVP (mínimo produto viável) quando abrir a caixa do iPhone que acabou de comprar? Ou viajar num MVP de avião, automóvel ou navio? Ou ser internado numa UTI em que os aplicativos de controle são MVPs recém-implementados? Ou aplicar o seu dinheiro num produto financeiro MVP? Podemos chamar Modo 2 o emprego de energia de forma exploratória, requerido nos esforços de inovação para a criação de processos/produtos/serviços, pois quem está desenvolvendo precisa de liberdade para assumir riscos em tentativas que nem sempre irão dar resultado, até encontrar uma forma viável e vencer as restrições para tornar uma inovação num negócio. Já pensou ter de padronizar algo que ainda não se sabe o que vai ser? Como aplicar políticas normas e procedimentos na criação de algo inédito para a organização? A gestão Bimodal reconhece a diferença entre as naturezas de emprego de energia exploratória e prescritiva e busca maximizar o emprego dessas energias nos contextos e ambientes adequados, de forma que os processos/produtos/serviços vigentes sejam entregues de forma otimizada e sustentem os processos/produtos/serviços que estão sendo criados para a geração de valor futuro para a empresa.
Fonte: Gianni Ricciardi
Transformar uma empresa lucrativa com seus produtos/serviços atuais numa gestão exploratória pode ser fatal, por perder o foco da padronização e otimização necessárias para a rentabilidade da empresa; do mesmo modo, impor uma gestão prescritiva a uma empresa em seus estágios iniciais pode ser fatal, por perder o foco na inovação, tentativa e erro até atingir um processo/produto/serviço viável. A superposição de curvas “S” é sustentada pela gestão ambidestra, ou bimodal, em que os esforços prescritivos e exploratórios convivem sem que um exclua ou substitua o outro ao longo da vida das empresas sustentáveis. A diferença entre o remédio e o veneno está na dose aplicada e na adequação do remédio aos sintomas do paciente. Querer usar o mesmo remédio para tudo vai salvar algumas e matar muitas empresas até perceberem o que Cynefin quis dizer. *Gianni Ricciardi é professor nas áreas de Governança, Estratégia e Gestão de TI