As empresas estão, definitivamente, adotando uma das mais importantes mudanças produzidas por esses novos tempos que é a possibilidade de um trabalhador do conhecimento poder trabalhar diretamente de “casa”, controlar seus horários e ferramentas de trabalho. Ainda não é grande o numero de pessoas que consegue trabalhar sem ter que ir a empresa, “bater ponto” e marcar presença física, mas, em um futuro não muito distante, provavelmente, a maioria dos trabalhadores do conhecimento vai trabalhar sem horário definido e controlado. Seremos todos pagos por trabalho executado, por resultados obtidos, e não mais pela quantidade de horas disponibilizadas. Mercenários temporários. No entanto essa nova forma de trabalho pressupõe novas competências e organização pessoal. A maioria das pessoas tenta separar suas vidas em duas partes distintas: a vida pessoal e a vida profissional. Essa separação em dois mundos parece significar que o ser humano aplica regras e procedimentos diferentes de acordo com a parte da vida na qual ele se encontra e que não vive sentimentos ou emoções de mesma natureza. Não é verdade. Somos basicamente os mesmos em família ou na empresa.

Não é fácil passar a trabalhar em casa, sem horário e sem controle. Falta a estrutura do tempo que a empresa propõe, faltam os “amigos” para trocar idéias e sentimentos, falta o espaço típico de trabalho, falta o “cara-a-cara” que nos permite perceber a avaliação que fazem de nós. Não fomos treinados para isso. Para poder ter sucesso nesse processo, o profissional, e a sua família, precisam criar novas estruturas e novos hábitos. É preciso existir, na casa, um local específico de trabalho, um quarto, ou apenas um canto, não importa, mas que esteja configurado e que seja respeitado como local de trabalho. Um local em que ninguém entra, ninguém invade. Outro ponto importante é criar disciplinas domésticas. O profissional precisa estabelecer hábitos e horários; o café da manhã, o banho, o vestir-se para o trabalho e ir para o quarto ou canto de trabalho, a pausa, o almoço, a volta. “Trancar-se” e trabalhar. A disciplina é fundamental.

Por outro lado os familiares devem aprender a “respeitar” os momentos e locais de trabalho, um do outro. Hoje em dia a grande maioria dos casais é “dupla renda”, ou seja, ambos trabalham. Caso apenas um fique trabalhando de casa o problema pode ser menor, mas a necessidade de disciplina é até maior. Não fomos “condicionados” a mantermos a disciplina, sozinhos. Na escola, no trabalho, na vida, sempre fomos de alguma forma induzidos e controlados. Essa liberdade é nova. Até mesmo a nossa legislação e nossa justiça do trabalho não estão preparadas para essa nova forma de trabalho e para essa ausência de controle de horas trabalhadas.

Finalmente, o mais importante é você passar incólume por essa reestruturação. Os tempos estão mudando.

Por Gilberto Guimarães