A polêmica começou numa entrevista para o Uol, em que  a nova ministra dos esportes, Ana Moser, afirmou:

“A meu ver, o esporte eletrônico é uma indústria de entretenimento, não é esporte. Então, se você se diverte jogando videogame, você se divertiu. O atleta de e-Sports treina, mas a Ivete Sangalo também treina para dar show e não é atleta; é uma artista que trabalha com entretenimento. O jogo eletrônico não é imprevisível; ele é desenhado por uma programação digital, cibernética. É uma programação, é fechada, diferente do esporte.”

A declaração caiu como uma bomba entre os praticantes, e a polêmica está há vários dias nas redes sociais, em especial no Twitter. Mas, afinal, os e-Sports devem ou não ser considerados esportes?

Este artigo não tem como objetivo dar uma resposta definitiva, mas levantar os argumentos contra e a favor da entrevista da ministra, além de trazer uma visão geral de mercado. Sendo assim, vejamos o que as pessoas têm dito a respeito disso.

Argumentos a favor dos e-Sports: a preparação e o tamanho do mercado

Antes de tudo, é importante ressaltar que a discussão não se dá a respeito da importância dos e-Sports. Mesmo quem concorda com a ministra não duvida da grandeza do mercado em questão que, segundo dados da Newzoo, divulgados pela Folha de São Paulo recentemente, apontam para US$1,3 bilhão movimentado no mundo em 2022.

Posto isso, o que os defensores dos e-Sports como esporte, capitaneados pelo streamer Casimiro Miguel, argumentam que há, sim, características fortes de esportes na atividade. De acordo com essa linha de pensamento, os campeonatos são organizados, as ligas fortes e profissionais, e os jogadores se preparam. Como exemplo prático de semelhança entre e-Sports e esportes são citados: o preparo físico, psicológico e até nutricional dos jogadores.

Em entrevista ao portal Uol para discutir o tema, Casimiro afirmou, entre outras as coisas, que a ministra desrespeitou o movimento. Para ele, “o comentário foi grotesco e grosseiro, porque parecia que ela não sabia do que estava falando”. Ainda sobre a declaração da ministra, ele disse que o posicionamento dela foi “arcaico”, segundo suas próprias palavras. Por fim, registrou que “a galera dos e-Sports quer reconhecimento e respeito (…) Você vai colocar o e-Sport em qual pasta? Porque precisa ter investimento. Ela poderia ter mais cuidado no seu discurso porque desrespeitou muita gente. A discussão é muito complexa para ser encerrada numa frase ruim.”.

Outras opiniões acerca da polêmica reforçam o pensamento de Casimiro Miguel

Outros streamers de e-Sports se manifestaram de forma semelhante, criticando o discurso da ministra e argumentando a favor da modalidade.

  • Bruno ‘Nobru’ Goes – “Fazer a comparação que você fez é ignorar todo processo que a pessoa tem de preparo físico e mental para disputar uma competição”.
  • Gustavo ‘Sacy’ Rossi – “Muita coisa mudou para o esporte eletrônico de 10 anos para cá, mas não podemos confundir esporte com entretenimento (…) O nosso treino é focado em competição, não em entreter pessoas;  estamos todos os dias jogando contra outros atletas, com horários definidos, estratégias e treinos em equipe, e isso faz dos e-Sports um esporte.”
  • Rafael ‘Rafifa’ Fortes – “É normal parlamentares terem uma visão arcaica do esporte eletrônico e do cenário como um todo, e entendo ela comparar o esporte eletrônico com entretenimento. Contudo, hoje o esporte eletrônico de alto nível detém as mesmas condições de estrutura e operação como no esporte tradicional.”

Números a favor dos e-Sports

Além dos pronunciamentos acima, os números fortalecem a opinião de quem é a favor de os e-Sports serem colocados como esporte. Além do movimento em dólares citados, são impressionantes alguns indicadores da atividade. Um estudo recente da Forbes traz algumas estatísticas impressionantes:

  • somadas, as principais organizações de e-Sports do Brasil já se relacionam com mais de 100 milhões de pessoas, somando redes sociais como Instagram, Twitter, YouTube e Twitch;
  • o crescimento estimado para este ano é de 6% do mercado;
  • cerca de 74,5% da população do Brasil afirmam jogar algum jogo online.

O que dizem as pessoas que concordam com a ministra?

Em contraponto aos argumentos apresentados e aos números de mercado, muitas pessoas têm apoiado o discurso da líder da pasta de Esportes. Um dos principais nomes nesse debate é o jornalista Flavio Gomes, que trouxe diversos pontos em sua coluna recente no Uol para justificar o que a ministra disse. Separamos alguns dos principais para acompanhar o tema:

  • os jogos pertencem a empresas privadas, que vendem também equipamentos e detêm direito intelectual sobre os programas de computador. Por causa disso, se resolverem desligar os servidores ou descontinuar os títulos, a prática terminaria. Em contraponto, se a CBF, por exemplo, decidir acabar com o campeonato brasileiro, as pessoas vão continuar a praticar o desporto em todo o País. Para isso, bastaria uma bola, que pode ser feita com meias;
  • o e-Sport depende de equipamento conectado à tomada e conexão à internet para funcionar, o que justificaria por si só o fato de o Governo não se preocupar com isso como causa esportiva;
  • assim como os praticantes de e-Sports precisam de preparo físico e psicológico para sua atividade, outras profissões também Exemplo claro disso seria a concentração de um cirurgião ou a precisão de um relojoeiro.

A indústria de jogos eletrônicos precisa do Ministério dos Esportes?

Posto o debate que se instituiu na última semana na internet, a reflexão que fica é: Os e-Sports precisam estar atrelados ao Ministério dos Esportes? Isso seria vantajoso para os praticantes?

De acordo com o orçamento aprovado para 2023, o Ministério dos Esportes terá uma verba de 1,9 bilhão de reais. Se a modalidade for enquadrada como entretenimento e ficar subordinada ao Ministério da Cultura, a verba aprovada para este ano seria de R$ 10 bilhões. Em outras palavras, financeiramente seria muito mais vantajoso estar sob o guarda-chuva da Cultura do que na pasta de Esportes.

Talvez a discussão seja muito mais de reconhecimento de uma categoria (e sua consequente regulamentação) do que financeira propriamente dita. Uma lei para os e-Sports nos moldes da Lei Rouanet ou da Lei do Incentivo ao Esporte poderia ajudar isso, mas não é determinante para o desenvolvimento da modalidade. Um dos maiores apoiadores dos e-Sports, inclusive,  é o Banco do Brasil, um órgão público.

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